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  • Foto do escritorSílvia Gomes

O mundo visto a 4200 metros de altitude

Atualizado: 30 de mai. de 2022



O dia amanheceu chuvoso: céu cinzento, frio e aquela chuva molha tolos que só incomoda. Estes dias trazem sempre consigo a melancolia. O meu estado emocional não estava no seu melhor. Sentia o mesmo de há uns dias - muitos mais dias do que gostaria - para cá, um misto de revolta e uma tristeza com uma mão cheia de dor... emoções que andava, também há dias, a tentar ignorar e calar, fingir que não existem e que não gritam a plenos pulmões because, cenas da vida 🤷‍♀️ a pessoa tenta disfarçar mas aqui, como na vida de qualquer um de vós, também há problemas e alturas mais difíceis do que outras... mas isto não interessa nada! 😁


Bem, mas falo eu de quê? Chuva e não sei quê? Que vos interessa, neh? Já vão entender...



A primeira vez que ouvi falar em saltar de paraquedas foi pela minha mãe que, tem como sonho, realizar um salto, mesmo tendo um problema cardíaco. Na altura em que soube que ela gostaria de o fazer, fui pesquisar e, aventureira e com paixão por tudo o que me desafie, quis muito também, um dia poder realizar. Mas é como as milhares de coisas na vida que vamos adiando, deixando para um dia...


Eu tive a sorte de me ter sido oferecido o salto 🙏 então, prevendo-se tempo de verão e face ao meu estado emocional descrito em cima, decidi que não era tarde nem cedo, era o momento ideal. Não foi possível a companhia da pessoa que me ofereceu contudo, estar sozinha nunca foi um obstáculo ou impedimento nem a minha própria companhia alguma vez me assustou portanto, lá fui eu, de fim de semana à aventura.


Aproveitei para passar por Setúbal, que adoro. Aquelas praias e aquela serra são de sonho. Há muito que queria visitar Sesimbra que não conhecia, portanto, esta foi a segunda paragem. Ir sozinha faz sempre com que conheçamos pessoas e traz sempre experiências que não viveríamos de outra forma...posso dizer que falei mais em inglês nestes dois dias do que português.


O dia D :D



Bem, a quem me gaba a coragem, devo dizer que nada de medo, ansiedade, perda de sono ou apetite...aliás a minha única preocupação era que com o agravar do tempo para domingo, o salto não se realizasse. Como já referi, acordei e chovia, em Évora. Fui para onde vai o bom português passear quando chove: para o shopping... comecei a ficar impaciente e ansiosa, mais uma vez não pelo salto mas por poder não se realizar. Estava marcado para as 16h. Era hora de almoço apenas. Decidi contactar, pelas redes sociais, a Skydive Évora a perguntar se podia ir indo e ficava lá pelo bar. Prontamente me responderam com a simpatia que já havia lido que era característica. Lá fui. De facto, simpatia e boa disposição não faltam aquela malta. Preenchi a documentação necessária e comecei a ficar com aquele brilho nos olhos que têm as crianças e um sorriso parvo no rosto que acho que trouxe a viagem toda de Évora até casa. Teria que esperar 2 horas ainda mas tinha lá o bar, pedi uma bebida, o céu estava a abrir, estava tranquila.




Só que mal me sentei, chamaram-me 🤦‍♀️ foi sempre a somar, equipar, claro que escolhi amarelo. O João foi quem me ajudou com o equipamento e que veio depois a ser o meu instrutor guia. Conheci uma noiva e a team bride que a meteu nisto 😁 super simpáticas e bem dispostas, uma delas ficou logo com o meu telemóvel para captar tudo o que mexia, obrigada querida 🙏 o João deu-nos algumas instruções que viria a repetir lá em cima, no avião, antes do salto.



Permanecia tranquila. Enquanto aguardávamos, fui colocando a conversa em dia com o João, é sempre bom conhecer a pessoa que terá a nossa vida nas mãos 😅





Admirou-me a forma como o avião sobe, não é uma subida gradual, naaaa, sobe a pique, literalmente. Também não tinha noção da distância a que subiria, embora soubesse que o salto era a 4200 metros, não achava que na prática seria tanto como foi. Ainda assim, estava tranquila.



A porta do avião abre, os saltos vão começar. As pessoas à minha frente vão de forma rápida. Vou até à porta do avião e é o único momento em que, por milésimos de segundo, penso WTF I'm doing? Não vou fazer isto. A minha mãe nesta parte cai para o lado quando vier fazer o salto. Está barulho, é alto que dói e sinto aquela impressão na barriga... Sinto o João a empurrar-nos e acho que, de alguma forma, resisti mas, lá fomos. Ainda pensei em fechar os olhos mas passados 3 segundos de estarmos em queda livre, já so estava a curtir...wow . Não sei explicar mas sentimos que voamos, vemos tudo lá em baixo, os ouvidos doeram por causa da altitude. O João faz-me sinal para abrir os braços, obedeço, giramos, wow estou encantada...a velocidade a que caímos não é como imaginava, desfruto de cada segundo.



Recolho os braços como manda o João e ele abre o paraquedas. Aqui vamos ainda mais devagar, sem barulho e dá para desfrutar desta sensação de voo, de flutuar, de ver tudo lá em baixo pequenino. O facto de ter algumas nuvens, passarmos por elas, incrível, brutal, não conseguia parar de adjectivar sentindo sempre que em nada estaria a fazer jus aquela que é a melhor experiência da minha vida até hoje. O sorriso parvo na cara, sempre. O João lá me deixou conduzir o paraquedas que é só espetacular também...perceber que efetivamente controlamos a direção.



A aterragem foi super tranquila também. E, chegada ao chão, só tive pena de já ter acabado.



Adorei tanto tudo. A equipa toda. Não têm noção do quanto eles são atenciosos também...sabendo que estava sozinha trataram-me super bem, até uma t-shirt ganhei 😍 conversamos imenso. Sei que acabei por lá ficar a tarde toda 🤦‍♀️


Só posso recomendar. O único momento mais difícil é aqueles milésimos em que nós chegamos à porta do avião até o instrutor nos atirar... de resto é tudo incrível. Fá-lo-ia novamente no momento em que aterrei, fá-lo-ia novamente agora. Quem deseja um dia fazê-lo...hoje é o dia! Quem tem medo, não há motivo. É tudo super confiável e seguro. O pessoal da equipa toda, desde bar, receção, instrutores, tudo, transmitem tudo de bom também. É algo único na vida. Quantas vezes te sentes realmente vivo? Quantas vezes fizeste algo que te desafiou de facto? Que de facto te deu prazer? Que te deixou mesmo sem palavras de tão maravilhoso? Não adies mais, só vai.


Texto: Sílvia Gomes

Fotografias: Sílvia Gomes e Skydive Évora





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