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  • Foto do escritorSílvia Gomes

O combate às alterações climáticas também se faz combatendo a desinformação

“Não deem cabo do mundo ainda cá temos muito a fazer

Não deem cabo do mundo se não como é que se há-de cá viver

É só atritos e detritos na almaTerra quente, guerra fria, ambiente em cuidados

São marcadas as cimeiras da calma

Cessar fogo, fogo posto, mil acordos falhados”


As alterações climáticas são o maior desafio social, económico e ambiental que os cidadãos, governos e territórios enfrentam e irão continuar a enfrentar no futuro. Contudo, o seu reconhecimento enquanto problemática que atinge a sociedade, o ambiente e a biodiversidade, não é ainda totalmente percecionado pelos cidadãos, decisores políticos do poder local e empresas. Parte deste problema surge do intenso fluxo de desinformação, fake news e esquemas de greenwashing que atingem as redes sociais, a comunicação social, as campanhas políticas e económicas, livros e artigos, entre outros.


Combater a desinformação

É crucial o combate à desinformação. Porquê?

  • É um obstáculo à ação coletiva: A desinformação pode influenciar as atitudes das pessoas em relação às alterações climáticas, levando-as a acreditar que o problema é exagerado, que não é real, ou que não é causado pela atividade humana, minando o apoio à ação coletiva e à implementação de políticas climáticas eficazes.

  • Favorece os interesses de setores poluentes: Algumas empresas e grupos têm interesse em desacreditar a ciência em relação ao conhecimento produzido sobre as alterações climáticas para evitar regulamentações que afetariam os seus lucros e, muitas vezes, financiam campanhas de desinformação para proteger esses interesses, tornando ainda mais difícil agir contra as alterações climáticas.

  • Divide a opinião pública: A desinformação pode polarizar o debate sobre as alterações climáticas ao criar divisões políticas e sociais que dificultam o entendimento das pessoas sobre a verdadeira natureza das alterações climáticas e as suas consequências assim como a formulação de políticas eficazes.

Contudo, essa desinformação pode ser combatida. Para isso é preciso apostar na:

  • Educação e conscientização: Promover a literacia climática e o entendimento das questões climáticas é essencial. Isso pode ser alcançado por meio da educação formal, campanhas de conscientização e divulgação de informações precisas sobre as alterações climáticas.

  • Promoção da responsabilidade nos meios de comunicação social: As empresas de media desempenham um papel fundamental na disseminação da informação. A promoção de padrões éticos e a verificação rigorosa dos fatos são cruciais para evitar a disseminação de desinformação.

  • Regulação e responsabilização: Governos e reguladores podem desempenhar um papel importante na regulamentação das informações falsas relacionadas com as alterações climáticas. Isso pode incluir leis que penalizam a desinformação deliberada.

  • Promoção da ciência e da pesquisa confiável: Investir em pesquisa científica confiável e apoiar a divulgação de informações baseadas em evidências é fundamental para combater a desinformação.

  • Envolvimento cívico: A participação ativa da sociedade na promoção de informações precisas sobre as alterações climáticas é crucial. Isso pode incluir a participação em iniciativas locais, pressão sobre empresas e governos e a defesa de políticas baseadas em evidências.





Os relatórios falam por si

Apesar da inclusão desta problemática nas agendas políticas mundiais, como é exemplo o Acordo de Paris, o último relatório “Global Risks Report” (GRPS) de 2023 do próprio Fórum Económico Mundial revela que “os riscos relacionados com o clima e a natureza lideram os 10 principais riscos, por gravidade, que se deverão manifestar na próxima década. Diferenciados como riscos separados pela primeira vez no GRPS, a incapacidade de mitigação das alterações climáticas e o fracasso da adaptação às alterações climáticas lideram o ranking dos riscos mais graves à escala global, seguidos dos riscos mais graves à escala mundial”.

O último Relatório de Avaliação do IPCC (Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas) salienta que “as alterações climáticas são uma ameaça ao bem-estar humano e à saúde do planeta. Há uma janela de oportunidade que se está a fechar rapidamente para garantir um futuro habitável para todos. O desenvolvimento resiliente às alterações climáticas integra a adaptação e a atenuação para promover sociedades ambientalmente responsáveis e socialmente justas, e é possibilitado por uma maior cooperação internacional, incluindo um melhor acesso a recursos financeiros adequados, em especial para regiões, setores e grupos vulneráveis, e uma governação inclusiva e políticas coordenadas”.


É urgente agir!

As ações antropogénicas já afetam diariamente todas a regiões e continentes, tendo-se vindo a registar eventos extremos mais frequentes e mais intensos, tais como as ondas de calor, precipitações extremas, secas severas, inundações, tempestades e incêndios, mas também um maior risco de propagação de doenças e pragas, epidemias e pandemias – evidências de que a crise climática é já uma realidade. Neste contexto, os países e as cidades têm adotado estratégias e medidas de adaptação às alterações climáticas (Estratégia Nacional de Adaptação às Alterações Climáticas 2025, Estratégias Municipais de Adaptação às Alterações Climáticas), atendendo que a severidade destes fenómenos, e respetivos efeitos associados, serão potenciados em espaços urbanos e regiões em que a capacidade de adaptação seja reduzida e em que as políticas públicas locais sejam inexistentes neste campo. Inevitavelmente, é urgente que as cidades e as regiões estejam preparadas para implementar medidas de mitigação e soluções de adaptação em diversos setores da sociedade e economia, nomeadamente na agricultura, biodiversidade, energia e segurança energética, florestas, saúde humana, segurança de pessoas e bens, transportes, comunicações e zonas costeiras.

Com a economia e a sociedade europeias abaladas pela invasão da Rússia à Ucrânia, os dirigentes da União Europeia solicitaram à Comissão Europeia que apresentasse um plano para reduzir rapidamente a dependência excessiva da UE em relação às importações russas de gás, petróleo e carvão. A Comissão apresentou o plano REPowerEU em 18 de maio de 2022. O plano REPowerEU tem por base a plena execução do pacote Objetivo 55 que estabelece o objetivo de reduzir em pelo menos 55 % as emissões líquidas de gases com efeito de estufa até 2030, e de alcançar a neutralidade climática até 2050, em consonância com o Pacto Ecológico Europeu.

Neste panorama internacional, as cidades, as autarquias e os seus decisores políticos devem encontrar, urgentemente, os meios e as ferramentas necessárias para a implementação de soluções de adaptação baseadas no conhecimento técnico-científico e em boas práticas. 





O papel da Educação Ambiental

Neste sentido surge o papel relevante da Educação Ambiental para a Sustentabilidade, que permite melhorar o nível de conhecimento local sobre as alterações climáticas e promover a integração da mitigação e adaptação às alterações climáticas nas políticas sectoriais e instrumentos de planeamento territorial através de uma participação ativa da sociedade civil – só assim teremos municípios descarbonizados e resilientes, onde os cidadãos terão acesso a energia segura, acessível e renovável, bem como à fruição de um ambiente mais sadio e público acessível a todos e a todas.

O aumento da resiliência dos territórios urbanos e a redução dos impactes significativos sobre os sistemas naturais, sociais e económicos só será possível se houver uma gestão ambientalmente responsável dos riscos e uma transição socialmente justa, em que todos os cidadãos tenham e sejam uma voz ativa na proposta, na análise, na discussão, na monitorização e na avaliação das políticas públicas locais. 


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